Masters of Wine

Série os Masters of Wine: Robin Kick

Série os Masters of Wine: Robin Kick

Robin Kick se transformou em uma Master of Wine no ano de 2014 e trabalhou na indústria dos vinhos por quase 20 anos. Embora Robin nasceu nos Estados Unidos, ela passou a maior parte da sua vida adulta morando na França, no Reino Unido e agora na Suíça — onda mora atualmente. A sua prestigiosa carreira inclui ter sido a experta em vinhos para Christie's na Califórnia; trabalhar para alguns dos distribuidores e vendedores de vinhos mais importantes do Reino Unido; e atuar como júri em renomadas competições internacionais de vinhos.

Amanda Barnes a entrevistou sobre sua percepção do vinho uruguaio depois da sua visita em 2018 e as oportunidades que poderia ter no mercado europeu.

AB: Qual é a sua impressão sobre o vinho uruguaio e o que faz dele um país único na produção de vinhos?

RK: Antes de visitar o Uruguai, eu não fazia ideia do que esperar. Depois que eu tive a oportunidade de experimentar certo número de vinhos uruguaios e conversar com alguns produtores, o Uruguai definitivamente emergiu como um país que já é capaz de produzir alguns vinhos realmente interessante, com um caráter genuíno, embora possamos dizer que ainda está crescendo em termos de encontrar sua própria voz. 

O Uruguai se sente como um dos lugares mais únicos para plantar uvas. Como me disse um produtor, elas recebem muito sol mas ao mesmo tempo há grandes diferenças na temperatura durante o dia e a noite, e brisas frias desde o oceano, por isso as uvas são capazes de reter uma boa quantidade de acidez natural. Há muita pouca irrigação, o que é pouco comum em países do novo mundo.

Também me explicaram que o Uruguai tem o clima de Bordeaux, porém com solos de Burgundian com muita argila calcária, o que também é incomum. Um dos produtores contou uma história sobre como sua família sempre tem cálculos biliares devido ao alto teor de calcário nos solos! 

A habilidade do Uruguai para produzir Tannat de excelente qualidade que não precisa ser envelhecido por anos antes de ser consumido é um fator único extra. Madiran é indiscutivelmente um dos vinhos da França mais desafiadores para vender e, apesar de que sua qualidade pode ser excelente, muitos deles requerem de anos de envelhecimento. 

“O Uruguai se sente como um dos lugares mais únicos para plantar uvas”.

— ROBIN KICK

AB: Por quais regiões, estilos ou variedades você se sentiu mais empolgada ou interessada na sua recente visita?

RK: É difícil para mim falar sobre regiões porque a minha viagem não foi muito longa e não conseguimos visitar todas as regiões. Mas os estilos que me agradaram mais foram aqueles que capturaram o amadurecimento das frutas, porém mantendo o frescor natural das uvas e depois envelheciam de uma maneira que permitia que sua personalidade brilhasse. Alguns deles foram envelhecidos apenas em aço inoxidável ou os mais sérios em madeira de carvalho, mas o carvalho estava bem integrado e se sentia como entretecido com o vinho. 

“As pessoas do Uruguai são cálidas, amigáveis e discretas. É um lugar ao qual eu adoraria voltar”.

— ROBIN KICK

Com base no que eu experimentei, o Tannat foi a variedade mais destacada, mas eu também experimentei algumas misturas interessantes com variedades Piemontesas e isso foi revelador.

AB: Quais você pensa que são as melhores oportunidades para os vinhos uruguaios no mercado de exportação a futuro?

RK: Devido à sua fortaleça com o Tannat, acredito que é a maior oportunidade do Uruguai, um pouco parecido com o que aconteceu com a Argentina e o Malbec. Uma vez percorrida essa estrada, eu acho que há muitas outras oportunidades que podem se apresentar a si mesmas. Nebbiolo de outras áreas fora de Piemonte - como Austrália - está chamando muita atenção nesses dias, e com a forte experiência prévia na variedade Piemontesa que tem o Uruguai, creio que o país poderia facilmente se tornar um concorrente com essa variedade também. 

Em termos de mercados de exportação, os Estados Unidos e Canadá poderiam se desenvolver de forma fácil, mas também muitos outros países europeus. Em qualquer lugar que o Malbec da Argentina tenha funcionado, o Tannat do Uruguai tem igualmente grandes chances.

“Devido à sua fortaleça com o Tannat, acredito que é a maior oportunidade do Uruguai, um pouco parecido com o que aconteceu com a Argentina e o Malbec ”.

— ROBIN KICK

AB: Que vinhos são tendência na Europa nesse momento, ou o que o mercado está procurando?

RK: É difícil dar uma resposta geral para um continente inteiro, porém penso que seria justificável dizer que as pessoas estão procurando autenticidade nos dias de hoje, e isso pode ser facilmente aplicado a mercados de vinho além da Europa.

Os consumidores que querem saber mais ou estão curiosos procuram vinhos que reflitam verdadeiramente o local de origem. Você também consegue observar isso nos cardápios dos restaurantes (onde se costuma mencionar o nome das fazendas onde os ingredientes foram colhidos, por exemplo). 

O interesse pelas variedades indígenas aumentou notoriamente nos últimos anos e, embora o Tannat não seja uma variedade indígena do Uruguai, o país se tornou seu lar adotivo e ao mesmo tempo o Tannat é o seu cartão de visita. Além do mais, os consumidores realmente querem ouvir as histórias. Não truques de marketing, e sim histórias reais por trás dos vinhos, sobre seus produtores. Isso é bem mais fácil de compartilhar quando as regiões são pequenas e as vinícolas são familiares e, nesse sentido, o Uruguai é muito rico.

AB: Quais estilos e vinhos do Uruguai você pensa que poderiam ter o melhor futuro no mercado europeu?

RK: Acho que isso depende de como realmente está o mercado na Europa. O Reino Unido tem necessidades bastante diferentes da Alemanha ou da Suíça, por exemplo. Os ingleses tendem a gostar mais de estilos clássicos, semelhantes aos de Bordeaux. Isso também se aplica ao mercado francês. 

“Eu também experimentei algumas misturas interessantes com variedades Piemontesas e isso foi revelador”.

— ROBIN KICK

Enquanto isso na Suíça, a população de fala alemã, que é a maior população do país, tende a gostar mais de vinhos arrojados, com muita fruta e frequentemente novos em relação à influência da madeira de carvalho. No entanto, as áreas com população francófona têm um paladar semelhante ao da França. Portanto, eu realmente penso que há potencial para um bom número de estilos diferentes, dependendo do país.

AB: Como foi a sua experiência visitando o Uruguai e experimentando um pouco da cultura local e das pessoas?

RK: Me disseram que o Uruguai é considerado por muitos a “Suíça da América do Sul”. Eu não tinha certeza do que isso significava exatamente, embora alguém tenha mencionado que muitos bancos estão sediados em Montevidéu e que seu pequeno tamanho e sucesso como nação permite um padrão de vida mais alto do que muitos outros países da América do Sul.

Eu fiquei encantada por quão diferente é topograficamente, de fato, se comparado com outros países da América do Sul que eu visitei. É verde, com colinas suavemente onduladas e maravilhosas vilas nas costas oceânicas que proporcionam uma sensação calma de praia que me lembra a Galiza ou a região basca da Espanha. As pessoas do Uruguai são cálidas, amigáveis e discretas. É um lugar ao qual eu adoraria voltar.

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