Mulheres no mundo dos vinhos

Mulheres no mundo dos vinhos: Fabiana Bracco

Mulheres no mundo dos vinhos: Fabiana Bracco

Fabiana Bracco, produtora de quinta geração, deu o salto para se tornar a primeira viticultora de sua família quando lançou a vinícola Bracco Bosca em 2005. Seu portfólio inovador de vinhos frescos e vibrantes está rapidamente ganhando elogios da crítica e faz parte do empolgante movimento de produtores da região de Atlántida, no Uruguai.

Amanda Barnes entrevista ela em relação a sua decisão de entrar na vinha da família e por quê ela está tentando colocar algumas das variedades menos apreciadas do Uruguai de volta no mapa. 

AB: Você é a quinta geração, como foi a experiência de crescer em vinhedos em Atlántida?

FB: Considero que isso determinou a minha personalidade e o meu amor pelo vinho. O vinho é algo muito especial quando você mistura todas essas sensações em uma garrafa. Eu sempre brinco com que é uma gravidez de mais de 9 meses quando você produz um vinho

As minhas lembranças de crescer em uma família de produtores de uvas é uma mistura de emoções. Por uma parte, a minha família sempre teve vinhedos e fazíamos festas durante a época da vindima. Agradecíamos a Deus por uma boa vindima enquanto tocávamos música na guitarra e fazíamos uma grande festa do vinho no final do verão com as famílias de todos que trabalhavam na colheita. Essas são as minhas lembranças preferidas de crescer em um vinhedo. 

 Mas eu também lembro momentos tristes... Os anos em que tínhamos muitas chuvas, granizo ou tempo fechado. Os meus pais são muito crentes, mas nesses dias eles gritavam muito com Deus! Não há nada que você possa fazer como produtor, você realmente depende da natureza. O vinho se trata de produzir o que a natureza permite e com isso você faz da melhor forma possível. 

“O vinho está há tanto tempo na terra, porque é muito diferente a qualquer outra bebida. Tem base na natureza”.

— FABIANA BRACCO

AB: Você foi morar em uma produção de vinhos em 2005, o que levou a tomar a decisão de voltar ao vinhedo da sua família e produzir vinho?

FB: Não foi uma decisão, sendo sincera. O meu pai faleceu, a minha  mãe teve um acidente e eu sou filha única. Então, de alguma forma, eu me vi obrigada a voltar ao vinhedo. Eu sempre trabalhei com vinho na minha própria carreira, e eu esperava que isso acontecesse gradualmente, não de forma tão repentina. 

Mas quando comecei, no segundo dia já estava apaixonada! Agora os meus amigos me dizem que eu me comporto exatamente da mesma forma que meu pai! 

O meu marido também deu muito de si para o projeto, e ele também se apaixonou pela produção de vinho. Nós estamos muito comprometidos com o que fazemos e sempre queremos criar vinhos que nos representem.

AB: Bracco Bosca faz parte da nova onda dos vinhos uruguaios. Sendo alguém que já trabalhou na indústria dos vinhos com outras vinícolas por tanto anos, como você viu a evolução do estilo dos vinhos uruguaios? 

 Eu estou completamente assombrada com a evolução dos vinhos uruguaios durante esses últimos dois anos. Quando eu comecei a trabalhar no negócio dos vinhos em Uruguai em 2003, era muito difícil comunicar e promover o Uruguai, porque as pessoas nem se quer sabiam o que era ou onde o Uruguai ficava. Expressar um vinho de origem sem ninguém conhecer o local de origem é uma tarefa difícil! 

 No entanto, hoje em dia, as pessoas conhecem o Uruguai - e, de fato, há um burburinho sobre Uruguai em importantes publicações internacionais ao redor do mundo. 

A mudança climática nos ajudou em muitos sentidos. E a nova geração de produtores de vinhos está focada em ter menos intervenções, e mostrar a nossa terra em seu verdadeiro sentido. Estamos respeitando essa pequena porção de vinhedos que precisamos mostrar ao mundo quão únicos são os vinhos que temos!

 AB: O que faz dos vinhedos uruguaios tão especiais e únicos, na sua mente?

FB: O meu pai sempre dizia que no dia em que eu descobrisse os vinhedos que tenho, eu me sentiria feliz. Hoje em dia eu concordo com ele e eu considero que agora podemos concorrer com vinícolas de todo o mundo, porque temos vinhedos únicos. 

 O nosso pequeno vinhedo é muito lindo porque nós estamos localizados apenas a 8km do mar. Sempre temos uma brisa maravilhosa e sentimos que isso ajuda muito e nos oferece uma linda, balanceada acidez e um álcool com vinhos frescos. Os nossos vinhos são de um estilo mais europeu, embora não tenhamos a pretensão de parecer que somos de algum outro lugar - queremos mostrar o nosso território uruguaio!

Cada porção de terra inclusive tem a suas próprias especificações microbiológicas. Também tem a ver com as pessoas... O meu primo tem tomado conta dos nossos vinhedos por mais de 30 anos. Essa combinação faz com que o nosso vinhedo seja muito especial. 

Efetivamente, isso é o que o Uruguai tem - você pode dirigir por apenas 3km e ter um vinhedo completamente diferente produzindo um Tannat completamente diferente!

AB: Qual é o vinho que você se sente mais orgulhosa de ter produzido na sua vida profissional até esse momento?

FB: Uma mãe não pode escolher entre seus filhos! Isso não é tarefa fácil... Porém, o meu Tannat sem envelhecimento em madeira de carvalho é fresco e fácil de beber, e tem uma excelente relação qualidade-preço. Eu o chamo o meu Tannat venda-garantida, e penso que é fantástico. Logicamente, todo mundo adora o nosso Cabernet Franc e o nosso Moscatel. 

“Nós precisamos valorizar o que herdamos dos nossos antepassados e mostrar esse valor, por isso nós temos tentado trabalhar com uvas que foram abandonadas no Uruguai, de muitas formas ”.

— FABIANA BRACCO

Basicamente, nós produzimos vinhos que nós gostamos e depois tentamos vendê-los! Eu acredito que se você faz algo com paixão, vai funcionar não só para você, mas também para o resto.

AB: Você foi uma pioneira em trabalhar com algumas das variedades menos apreciadas no Uruguai, como o Moscatel Hamburgo e o Ugni Blanc, e em apresentá-los como vinhos finos. O que inspirou você para revalorizar essas variedades que vinham passando desapercebidas?

FB: Eu sempre admirei projetos no Chile e na Espanha que resgataram variedades ancestrais. Quando eu finalmente tive o meu próprio projeto, eu quis resgatar e valorizar o que tínhamos do nosso passado. Precisamos valorizar o que herdamos dos nossos antepassados e mostrar esse valor, por isso nós temos tentado trabalhar com uvas que foram abandonadas no Uruguai, de muitas formas 

Além do mais, eu sou uma pessoa muito obstinada... E quando as pessoas me disseram que não era possível fazer um Moscatel que fosse decente, eu quis mostrar para eles que sim era possível!

AB: Como você se sente como mulher no mundo dos vinhos uruguaios?

FB: Eu penso que hoje em dia é maravilhoso porque há muitas mulheres no mundo dos vinhos no Uruguai. As pessoas sempre se surpreendem pelo fato de haver tantas mulheres trabalhando nessa indústria aqui. 

 Não considero que tenhamos diferença em termos de gênero no que tange aos vinhos, porém nós talvez tenhamos uma compreensão diferente como mães - tomando cuidado dos vinhos como se fossem os nossos filhos. Não há prejuízos em dizer que eu sou uma mulher trabalhando no mundo dos vinhos, na verdade somos bem respeitadas no Uruguai.


BRACCO BOSCA
Atlántida, Uruguay
www.braccobosca.com

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