Enologistas além das fronteiras

Enologistas além das fronteiras: Duncan Killiner

Enologistas além das fronteiras: Duncan Killiner

Duncan Killiner já produziu vinhos em mais de 20 países, ao redor de quatro continentes. Nativo da Nova Zelândia, ele é reconhecido pelas suas habilidades na produção de vinhos brancos, especialmente o Sauvignon Blanc. Foi com essa especialidade que ele veio pela primeira vez como consultor de vinhos ao Uruguai no ano de 1996, produzindo os primeiros vinhos em serem exportados a supermercados do Reino Unido; e mais tarde, desenvolvendo um projeto pelo qual ele criou seis estilos diferentes de Sauvignon Blanc com diferentes famílias em diferentes regiões vinícolas do Uruguai. 

Embora Duncan more na Argentina atualmente, ele continua trabalhando como um dos mais antigos enologistas além das fronteiras, realizando consultorias agora para as vinícolas Alto de la Ballena e Pizzorno.

Amanda Barnes o entrevistou sobre sua experiência no Uruguai através dos últimos 23 anos e porque ele acredita que o Uruguai é um dos países produtores de vinhos mais interessantes do Novo Mundo.

Duncan Killiner, Enologista além das fronteiras. Foto: cortesia de Pizzorno Family Estates.

AB: Com base na sua experiência produzindo vinhos em mais de 20 países diferentes, qual é o país que você acha é mais comparável com o Uruguai? 

DK: O Uruguai é uma versão cálida de Bordeaux em muitas maneiras. É costeiro, com encostas onduladas semelhantes às de Entre deux Mers, com os solos pesados - especialmente na região tradicional de Canelones. Por isso você pode fazer ótimos Sauvignon Blanc Tannat aqui. 

O Uruguai é o velho, Novo Mundo. Não tem as enormes intensidades de luz solar nem o calor e as condições de estiagem que nem no Chile, Argentina ou Austrália, por exemplo. Então, nesse contexto, estamos fazendo vinhos mais frescos, com menor grau de álcool, que são, no final das contas, vinhos mais gastronômicos. 

É muito interessante e o Uruguai está amadurecendo como um país produtor de vinhos. Apesar do Uruguai ter produzido vinhos por mais de 100 anos, não eram vinhos muito finos. Historicamente era uma jarra de vinho para a população local, e é verdade que as pessoas ainda bebem muito vinho e comem muito churrasco - é algo bem uruguaio. 

 “O Uruguai é o velho, Novo Mundo”.— DUNCAN KILLINER

Agora as pessoas estão começando a olhar para diferentes lugares, e o Tannat é uma variedade muito interessante no Uruguai. Os vinhos Tannat costumavam ser muito verdes e não muito maduros. Isso mudou completamente. As pessoas consomem regularmente de 13 a 14% de álcool, mesmo em anos úmidos. Isso mostra avanços na produção de vinho, à medida que eles se preparam para exportar estilos diferentes. 

AB: O que empolga você sobre produzir vinho no Uruguai?

DK: Que há safras! Cada colheita é diferente no Uruguai. Você muda um perímetro e tem uma colheita completamente diferente no Uruguai. Por isso você realmente precisa trabalhar muito no vinhedo e na vinícola para produzir vinhos premium. É muito intenso. Se apenas um perímetro muda, você pode obter vinhos completamente diferentes na mesma colheita no mesmo dia, por exemplo. Nesse sentido, é muito diferente do resto dos países produtores de vinhos do Novo Mundo.  

Você precisar usar suas habilidades e a tecnologia para ser um melhor artista no Uruguai. Porque você tem que entender o que está acontecendo com as uvas e como alterar sua produção para obter o produto desejado. As demandas da produção moderna são obter vinhos de alta qualidade a cada ano e um estilo semelhante a cada ano. Em um lugar como o Uruguai, isso não é fácil. Porém, isso o torna excitante e interessante! 

Você precisa sair lá e compreender o que se passa, e fazer muito trabalho manual nos vinhedos. Você realmente consegue vinhos artesanais no Uruguai porque eles são bem diferentes. Os mesmos locais em Canelones, por exemplo, irão produzir vinhos completamente diferentes. É imensamente engraçado. 

AB: Como você perceve o desenvolvimento de regiões do vinho no Uruguai da primeira vez que você veio trabalhar no país em 1996?

DK: As pessoas se mudaram para áreas afastadas de Canelones - e mesmo dentro de Canelones - para desenvolver diferentes locais e diferentes tipos de solo. Agora você tem muitas pessoas no norte, em uma região mais quente, plantando vermelhos maiores como Syrah e Cabernet. E você tem pessoas no leste com locais mais frios e costeiros, que ao mesmo tempo tem melhor altitude e exposição ao sol, criando um estilo moderno de vinho tinto.

Nos últimos 10 anos, observamos uma explosão de diferentes variedades sendo plantadas também. Alvarinho tem sido, provavelmente, a variedade mais visível, mas também há um ótimo Marselan e outras variedades que ninguém levava a sério anteriormente.

AB: Você tem muitos anos de experiência trabalhando em vários países ao redor do mundo. Como se compara com a experiência de trabalhar com famílias produtoras de vinhos do Uruguai?

DK: Os uruguaios são muito voltados à família. No entanto, as gerações mais velhas estão abrindo espaço para as gerações  mais novas para fazerem coisas diferentes - como o enoturismo. Não havia enoturismo no Uruguai 10 anos atrás, mas agora você faz um passeio turístico em uma vinícola e é tudo organizado pela próxima geração de jovens - e as vinícolas ficam lotadas todas as semanas!

As famílias uruguaias são muito práticas a respeito disso. Eles deram espaço a seus filhos para que assumam o seu papel. Também a base dos consumidores tem sido alterada, agora as famílias uruguaias produtoras de vinhos estão vendendo seus vinhos no exterior. Isso me surpreendeu muito sobre o Uruguai. É um país muito liberal em vários sentidos. 

AB: Qual é o potencial do Uruguai como produtor de vinhos, na sua opinião?

DK: O Uruguai sempre será um produtor premium, simplesmente pela escala e pelos custos envolvidos. Há muito trabalho manual que deve ser feito ao trabalhar nos vinhedos e eles devem mirar por um produto premium pelo qual as pessoas se sintam felizes de pagar a diferença. 

Portanto, o Uruguai tem realmente um estilo de restaurante e loja de vinhos e quanto mais eles aprendem a se expressar cultural e tecnicamente como vinicultores, acho que veremos estilos de vinhos ainda mais interessantes e uma mensagem mais clara para o consumidor. 

“O Uruguai sempre será um produtor premium”.— DUNCAN KILLINER

AB: Por que você considera que este é um bom momento para os vinhos uruguaios?

DK: Acho que o mercado mundial está procurando diversidade de estilos de vinhos e além disso buscam vinhos mais amigáveis com a culinária. As pessoas querem vivenciar experiências com seus vinhos e sentir de onde eles vêm - eles querem embarcar em uma viagem. E o Uruguai, mais do que a maioria dos outros lugares no Novo Mundo, oferece uma viagem porque os vinhos são muito diferentes. Não há um estilo genérico no Uruguai. 

Os estilos de vinhos são de propriedade das diferentes famílias produtoras nas diferentes regiões. Em que outro lugar você pode encontrar Alvarinho, Tannat e um ótimo espumante da mesma região, sendo todos eles muito interessantes? Você simplesmente não acha.

You may also like.

Enologistas além das fronteiras

Enologistas além das fronteiras: Paul Hobbs

Paul Hobbs é um dos consultores mais respeitados do mundo em termos de vinicultura e já produziu vinhos no Novo Mundo e no Velho Mundo.

Enologistas além das fronteiras

Enologistas além das fronteiras: Hans Vinding Diers

Hans Vinding Diers nasceu em Stellenbosch, foi criado em Bordeaux e já produziu vinhos em 10 países diferentes e 4 continentes. 

Stay Tuned.